COMO
MANTER SEU TRABALHO
Pirineus de
Souza
“Quando a
Depressão Ataca”
Em meio a
outras colocações o assunto já foi abordado de maneira mais indireta, mas é
primordial fazer-se a pergunta: o meu trabalho me interessa de fato? Não será
ele a causa principal dos meus problemas? Poderei sobreviver sem ele? Uma
reciclagem não seria interessante para mantê-lo? A procura de uma outra
atividade não é mais aconselhável?
Faça sua
análise particular e com o seu terapeuta, quem estará prejudicando quem. O seu
trabalho a você, ou você a ele? Se for você a causa, tente de toda forma se
readequar a ele, pois como o desemprego e a competição dos dias de hoje são grandes,
não podemos ignorar que no seu estado, só tenderá a levar desvantagens,
relativamente àqueles que estão bem e no páreo.
Se nas perguntas iniciais você se conscientizou
que não terá meios de sobrevivência sem o que faz e não tem outra opção para
outro reinício, alie-se aos remédios e aos terapeutas. Troque-os se necessário.
Encare os fatos como possíveis e não como passíveis de serem resolvidos.
No desempenho
das suas tarefas, você lida com equipamentos que exigem atenção, ou agilidade
na operação? O seu médico terá que saber para adequar a medicação a esse manuseio,
ou mesmo afastá-lo, enquanto não tenha condições.
Observe-se,
como está a sua destreza, a sua atenção, os seus reflexos, a produtividade.
Escute as considerações que lhes sejam feitas, todos são indícios para não
acontecerem fatos desagradáveis e não sendo possível você executar suas tarefas
habituais, tente uma mudança temporária nos seus afazeres.
Afastamentos
só devem acontecer em último caso e a volta ao que habitualmente você executa,
só quando estiver apto. Evite ao máximo os pedidos constantes de licenças e
nesse tempo, não use as folgas facultativas desnecessariamente. Você poderá precisar
delas mais à frente. Caso você ainda não fez uma autocrítica, outros podem
fazê-la. Basta não valorizar a assiduidade, o desemprego, a cordialidade para
com os colegas, e você sabem, a fila de interessados em sua vaga é imensa.
Portanto, não
despreze os detalhes que no final podem contar pontos.
Nem sempre
somos ligados às Leis Trabalhistas, mas elas contém nuances, detalhes que antes
nos pareciam supérfluos.
Mas, nesse
momento, é indispensável que os valorizemos e os entendamos. Para isso, procure
ler sobre o assunto e se informar, até onde vão os seus direitos. Informe-se de
pormenores, entrelinhas, inclusive assegure-se deles. Faça consultas junto ao seu
sindicato, a profissionais que entendam.
Por vezes
vemos o chefe, o patrão como vilões, e nem sempre vamos estar em estado de
autocriticar-nos e concluirmos pela nossa culpabilidade nos problemas com o
trabalho. O dito popular, "a corda sempre arrebenta do lado do mais
fraco" é verdadeiro. Compulsivamente, somos levados a tomar partido de nós
mesmos, mas será que estamos certos? Não foi falha nossa?
Nesse sentido
é bom sabermos junto aos nossos superiores como anda o nosso desempenho no
serviço e reflita se é possível uma melhora, ou se estamos aquém dessa
expectativa devido ao nosso estado.
Seus colegas
por certo estão achando-o diferente, mas não têm idéia da sua turbulência
interior. Não é necessário que o saibam, a não ser os mais íntimos. Hoje a
medicina é capaz de ajudá-lo a camuflar os sintomas e mais uma vez repito, não estou
pedindo ou induzindo você a mentir e sim, tanto quanto possível, omitir.
A tristeza
por si só, talvez não lhe tenha causado sintomas aparentes e lhe seja difícil
guardar só para você o que está se passando. Como a depressão é muito complexa
e difícil de ser compreendida, os profissionais da medicina que no momento lhe tratam,
não são vistos pela maioria como os mais recomendáveis. Se reserve. Sempre
haverá alguém para tocar na ferida. Seja cauteloso em seus desabafos e em sua
maneira de agir. O momento assim exige. Se alguma das perguntas iniciais não
puder ser respondida de imediato, não se apresse em fazê-lo. Deixe para quando
os problemas estiverem sob controle. Também analise onde você se enquadra e
quais as soluções a tomar.
Observe se
não está chegando atrasado ao seu trabalho. Se não está se ausentando com muita
freqüência, ou mesmo saindo mais cedo. O dormir poderá estar sendo um canal de
fuga, a ida ao bar da esquina... Aqui dou uma parada maior. Você não estará
bebendo demais, e mesmo durante o horário de expediente? Mesmo que não esteja
fazendo isso durante seu horário de trabalho, a sua ressaca não estará
interferindo no seu humor, na sua capacidade de raciocínio? Responda para você mesmo:
o álcool não pode estar servindo de válvula de escape?
Se for, reaja,
procure ajuda, pois se você não se contiver, não só seu trabalho estará
comprometido, mas todo o seu mundo, interior e exterior. Seja o álcool,
remédios sem serem devidamente receitados, drogas, todos são inimigos do seu sustentáculo.
Se por esses caminhos ocorrem as suas fugas, que seja apenas um deles,
continuar realimentando-os significa uma derrota após outra em sua vida. A
mistura de qualquer um desses vícios com antidepressivos pode ser fatal, sem
contar nas seqüelas que podem provocar. Durante o seu tratamento nem o hábito
de beber socialmente pode ser cultivado, tampouco a já famosa primeira dose. Olhe
a sua volta, quantas pessoas não têm o privilégio de poder trabalhar como você.
Não tiveram as oportunidades que você teve, não são preparadas
profissionalmente como você, têm deficiências que as impossibilitam de exercer
o que você executa. Agradeça a vida por assim ser, e procure os meios para que
continue. Pode até parecer impossível, mas você terá que lutar com todas as
suas forças e meios. Mentalize: minha depressão vai passar e vou ter de
continuar a trabalhar. Ela há de passar mais cedo ou mais tarde e seu trabalho
continuará.
Portanto, não
encoste, não o afaste antes do tempo certo ou devido.
No capítulo “Ela
Aposentou Você” literalmente, enfoquei situações em que as pessoas involuntariamente
tiveram de se aposentarem, devido á depressão. Existem casos em que nem toda
boa vontade do mundo conseguiu deter a marcha dos acontecimentos. Mas como foi
tratado, nem tudo está perdido e para continuar a viver, sempre há de existir
esperanças e sonhos.
Nunca tudo
estará perdido. Mas esse não será o seu caso, você há de se superar e recorrerá
a todos os meios ao seu alcance para se manter ocupado com o seu trabalho.
Pense nessa possibilidade e vislumbre um futuro sombrio, a ociosidade, a falta
do que fazer. Será bem pior de administrar. Talvez tenha que redobrar suas forças,
a sua criatividade para um recomeço incerto. Nada melhor que autocontrolar-se e
manter o certo, o seguro e que você já sabe como fazer.
Com ajuda ou
sem ela, você concluiu que o seu trabalho é o motivo real da sua depressão.
Nada mais resta a fazer. Você não se sente bem, falta-lhe motivação, sente
calafrios só de pensar no trabalho, é a angústia do seu existir. Pode ser uma
conclusão camuflada, às vezes "os colegas" são os que mais o chateiam
e você não pode afastá-los. Seja prático, peça transferência para outro local.
Não fuja da realidade, que o problema é você e não os outros. Fale com seus terapeutas,
encontre caminhos, paliativos, um meio termo para harmonizar o quadro. Caso
todos eles falhem, não aja por impulso. Isso sempre, ou quase sempre, funciona.
Se tudo estivesse bem com você, o seu espírito de luta, de autoperseverança
poderiam lhe ajudar, mas não é esse seu caso. Agindo cautelosamente, você
poderá manter seu trabalho até que se recicle, aprimorando-se em sua própria
atividade ou em outra. Só que procurando acertar para que não venha no futuro,
arrepender-se da escolha.
Errar é
humano, mas perseverar no erro não é nada recomendável. Sendo a vida uma
escola, olhe ao seu redor e encontrará muitos exemplos do que estamos falando.
Por você ter
caído de cabeça no seu trabalho, esqueceu-se de avaliar suas condições físicas
e psicológicas para executá-lo e dar continuidade a ele. O bom senso manda você
ir mais devagar à consecução dos seus objetivos, ou até mesmo dar um tempo para
que você volte à forma. Essa de que "o importante é agora" poderá
estar sendo a causa da sua situação, no fundo do poço. E o futuro? Ninguém
depende de você? Nesse seu futuro está seu trabalho? Sem ele como será a sua
vida? Não será a falta de férias? Mas preste atenção, se você as gozou e alguma
coisa ainda vai de mal a pior, será que realmente é o seu trabalho o problema?
Se questione, se cobre uma resposta. O motivo pode ser outro bem diverso para a
sua falta de motivação e tristeza.
Enfoquei os
prós e os contras, devido aos casos em questão, tenderem a se manter enquanto
não houver a superação ou aniquilação dos motivos que os ocasionaram.
O seu
trabalho não estará sendo afetado por causas externas, devido aos seus
problemas afetivos, a sua situação financeira, a sua saúde física? Os motivos
poderão advir deles e não do seu serviço. Só o culpe, quando afastadas todas as
possibilidades. Ele não pode tornar-se bode expiatório, se é essencial para a
sua sobrevivência.
Priorize seus
valores, a solução dos problemas que o afetam, revitalize sua vontade de
trabalhar, de produzir. Você pode ter 20 anos e se encontrar nessa situação,
mas vale à pena abandonar o que você está fazendo? Pode não ser ele a causa.
Você pode ter
40, 50 anos, a situação é a mesma? Diria que sim, pois todos terão de
recomeçar, nem sempre assertivamente. Daí, você pensa como a estrela do outro
brilha e a sua não. Acontece. Nem perfeitos somos por natureza. É tudo uma
questão temporária. Depois, mais
equilibrado, o brilho da sua voltará. Por isso repetimos, vá sempre em frente,
nem que seja pelos lados.
Você já tem
tempo de serviço suficiente para aposentar-se, mesmo assim racionalize. Não o
faça enquanto não tiver outras perspectivas de atividades ocupacionais, coisa
que já deveria ter feito, mas foi pego de surpresa pela angústia. Protele, até pressentir
o que vai fazer, mesmo que o impossível aconteça: chegar à conclusão que não
poderá fazer nada. Mas aí você terá todo o tempo do mundo para pensar e chegar
as suas próprias conclusões.