Pirineus de Sousa
“Quando a Depressão Ataca”
AUTOPIEDADE
Decididamente a autopiedade pode não estar clara no seu EU, ainda. O normal é nos fazermos de vítimas para fugir da realidade. Quando digo que ainda não despertou para esse fato é porque tem um longo caminho a ser percorrido até constatar que as falhas são suas e que deve assumi-las. O seu mundo está gravitando de maneira diferente por algum motivo e por isso você está também mudando, mas você talvez não esteja percebendo. Vai se recolhendo em copas e acrescentando-as à medida que os fatos ocorrem. A tendência em tudo isso é ir se fazendo de mártir, pois as coisas não estão dando certo como você gostaria que dessem. Em situações assim, o mais plausível é atribuir a outrem a culpa dos erros para chegar às metas que você tão bem delineou. Elas poderão ter sido planejadas já em meio a turbulências e você não percebeu. Detalhes podem ter sido omitidos ou esquecidos.
A constatação disso vem em fracassos que se repetem e formam um efeito cascata: cartinha por cartinha, vão caindo. A questão é que você deve responder pelos seus atos, corretos ou não. E isso é pesado. É quando nos tornamo-nos vulneráveis e sentimos muita piedade de nós mesmos; impotentes diante da realidade crua e nua. Por mais que os outros queiram nos ajudar, estarão lidando com um problema.
Somos ou não somos? Quer para os outros, quer para nós mesmos, sabemos sê-lo. A acomodação não resolverá esse estado de coisas. Para isso, é necessário nos conscientizarmos de que o importante é seguir em frente, nem que seja para os lados (repito). Não deu certo hoje não deu certo dessa forma, vamos procurar outros meios. Não estamos à procura de uma saída que seja nesse labirinto?
O importante nessa auto-análise é tornarmo-nos transparentes para nós mesmos. Assumirmos as conseqüências das nossas atitudes e ter em mente, que mesmo aqueles que estiverem fora dessa canoa, também erram - com a diferença que as barreiras para eles são transponíveis e para nós são muralhas, altas, inatingíveis. Nós assim as construímos. Parece estarmos confundindo objetivos não concretizados, como conseqüência para o sentimento de autopiedade. Mas na verdade, esta é apenas uma entre incontáveis nuanças que nos levam a ter pena de nós mesmos.
Fugindo desse lugar comum, vejamos o plano afetivo. Parece que todos nos desprezam, pois vemos nas expressões dos outros, a alegria que queríamos que transparecesse na nossa.
Eles vivem em um mundo multicolorido e conosco tudo parece cinza, quando muito, em preto e branco. É tudo uma questão de essência. Enquanto neles o mundo ressoa, em nós não provoca eco. Eles têm todas as saídas; nós, nenhuma. Enxergamos as demais pessoas como amando e sendo amadas. Percebemos que também somos capazes, mas não ousamos, não merecemos. Se perdermos o amor por nós mesmos, como poderemos amar outras pessoas, lugares ou coisas?
Somos vítimas de nós mesmos, e não percebemos o quanto podemos ser queridos. A nossa angústia nos torna egocêntricos e o afeto que nos é destinado parece pouco, por mais explícito que seja. Somos carentes. Nosso eu está doente e talvez não diagnosticado. O nosso dia a dia passa como uma película insossa. Os cartões postais de nossos amigos são recebidos como insultos, pois como encontrar alegria onde não existe?
Parece até conspiração de tudo e de todos. E onde encontrar o equilíbrio ou senso comparativo para que nossos vagões se encarrilhem nos trilhos certos? A resposta está dentro de nós, cabe-nos procurá-la Mas como? Dentre as diversas opções que possam nos apresentar, além da ajuda externa, você é um milagre da natureza. Procure no seu íntimo como poderá se autovalorizar, objetivando não necessariamente seu círculo de vida, mas diante de você mesmo. Faça-se grande em frente ao seu espelho.
Olhe um rio, um riacho, admire as suas perenidades. Compare-se a eles, seja tenaz em seus objetivos, é como já disse, sempre em frente, nem que seja para os lados e já disseram: sempre existe um fracasso atrás de um grande sucesso.
Fortalecido, naturalmente os demais assim sentirão com relação a você. E em contrapartida, corresponderá a mais respeito para consigo e não necessitará de atenções maiores que aquelas normalmente dispensadas a uma pessoa.
O paradoxo, sejam quais forem os motivos pelos quais você está triste, é AUTOPIEDADE x AUTOCONFIANÇA.
Dê o primeiro passo. Ninguém nasce sabendo, tente ser autosuficiente. Comece por coisas ínfimas, e vá progredindo passo a passo. Não procure ser o alvo das atenções. Todos têm seus problemas. Viva e deixe-os viver, cada um na sua.
A autoconfiança deve se estender até o controle dos seus pânicos. Como? É apavorante, se você é daquelas pessoas que se esvaem em suores por todo o corpo só de pensar em sair de casa, principalmente sozinho.
Se você não encontrar um meio de enfrentar a situação vai depender de outras pessoas que já tem suas vidas para administrar. Você passa a ser um estorvo. Então, pondere o que poderá acontecer se você enfrentar a situação?
Com calma, poderá se libertar dos pânicos, quando perceber que ao desafiá-los, você terá que superar-se. Terá que ser corajoso e deixará de pensar: talvez essa tristeza toda acabasse se eu nunca mais acordasse. É preciso acordar e concordar que o que for inevitável, teremos que enfrentar. A autopiedade nada mais é, segundo alguns, que o medo associado ao comodismo, que atinge uma pessoa fragilizada.
O medo é compreensível, o comodismo vem em decorrência de situações que interagem com o não discernimento do que é falso ou verdadeiro.
O que será mais interessante, passar o tempo em companhia agradável, ou junto a pessoas taciturnas? O óbvio não precisa de resposta. A tendência natural é você ser excluído ou ignorado.
Cai assim a sua auto-estima e você fica carente de atenções. Você se autoapieda. Como evitar? Procure guardar seus traumas para quem se dispuser a ouvir, amadora ou profissionalmente falando. Procure não ser alvo de pena. Comunique-se de forma positiva, mesmo que o seu "eu" esteja dilacerado. Todo mundo gosta de cargas positivas, deixe as negativas para autosolução ou ajuda especializada.
Depressão passageira ou crônica? Se situe em um desses grupos. O primeiro não é melhor que o segundo; ambos são caóticos. Mas a verdade é uma só: todos que nelas se encontram não a desejam nem para o pior inimigo. O pior é não ser compreendido por você ter essa doença da alma. Ninguém a vê, senão pela tristeza aparente em seu olhar - e que nem sempre é percebida.
Você ficou diferente por não ver mais graça nas coisas prazerosas da vida e isto é difícil de entender, por se constituir basicamente na razão do tempo que passamos aqui na terra.
Todos buscam e querem viver assim, felizes. A falta de compreensão para com você, o faz sentir rejeitado, vem a autopiedade e, com razão, pois quem gostaria de estar numa situação dessas? Por estar consciente, vem o sofrimento. O louco não tem esse problema, ele vive noutra realidade, por isso a necessidade de colaborarmos com o nosso restabelecimento para não passarmos a ser mais um na categoria deles.
Os momentos agora vivenciados, não estão sendo nada agradáveis. Mas em vez de repelir as pessoas, cative-as e procure na medida do possível expandir o seu círculo de relacionamento, tendo em mente que os outros gostam mais de serem ouvidos do que escutar. Portanto, dirija suas lamentações para os canais apropriados, poupe quem está em paz e faça-as sentir que você está bem. Você não estará mentindo e sim omitindo o que às vezes pode estar óbvio na sua fachada triste. Mas lembrem-se, as pessoas para se manterem longe de problemas, fazem qualquer negócio. Enquadre-se nos padrões normais de comportamento.
Auto-estima, autocontrole, tudo tem a ver com o comportamento do depressivo em sua autopiedade. Daí a necessidade de procurar se dosar, procurar o equilíbrio. Conheço casos em que o autocontrole foi conseguido com a ajuda de medicamentos e palestras, mas os pacientes tiveram que colaborar, pois suas crises os tornavam eufóricos. O perigo da euforia é poder levar o depressivo a atitudes extremadas, e não é por esse caminho que se resolve o problema. Portanto, nesses casos é mais do que necessária a monitorização por profissionais médicos, para observar, controlar o paciente, objetivando levá-lo a um estágio ideal de equilíbrio para enfrentar a vida. Enfrentar é um termo bastante duro. Por que não viver a vida, não agarrar-se ao passado, ou achar que o futuro será sempre melhor?
É viver o presente com tudo que tiver direito. Não deixe que a ilusão de um futuro melhor lhe tire o viver agora, da forma que lhe aprouver, paciente ou freneticamente, dentro das suas limitações. Também não adiantará dar um crédito muito grande para o passado que foi tão rico de realizações, pois ele se foi, o momento é agora. Pense assim: se optei por viver, quero viver até o último momento; e que o tempo presente é o único no qual podemos repassar o passado e construir o futuro.
Encapsular-se tipo conversar com seus botões, não o levará a nada. Só a honestidade em suas colocações o fará melhorar, com terapias e medicação adequadas. Eles haverão de indicar os meios para que você encontre a sua auto-estima, seu autocontrole e deixar de lado a autopiedade. Noto que ela é muito recorrente e infantilizada. Parece-se aos ciúmes do filho mais velho com a chegada de um irmãozinho. A coisa fica tão à mostra que deixa de ser importante para terceiros. Só o depressivo realmente a sente e não tem consciência do ridículo a que pode estar exposto.
Analisando nossa enfermidade mental da tristeza, procuramos exemplos à nossa volta. Eles estão na TV, no rádio, nos jornais, nas ruas, na casa de seu vizinho, onde encontraremos situações piores que a nossa. No entanto, a dó de
nós mesmos nos tornamos infantis, cegos, ridículos, egocêntricos, carentes da atenção do próximo. Muitas reabilitações ocorrem, a partir do momento em que o depressivo entende não ser ele o centro das atenções que ele julga ser e sim uma pessoa como outra qualquer. Além do que, é necessário adquirir a auto-estima com o posterior autocontrole da situação.
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