Técnicas de Psicoterapia Holística,
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Apoio nos tratamentos de Transtornos Depressivos, Ansiedades, Pânico, Fobias, Disfunções Alimentares, Terapia de Casais.

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sábado, julho 19, 2014







Lidando com Sentimentos Difíceis
(Instrumento desenvolvido por Kingsley Mudd, http://contextualscience.org/)


Você frequentemente se encontra lutando contra sentimentos dolorosos ou difíceis? Por exemplo:
  • Raiva ou frustração tão intensas que você sente que está prestes a explodir?
  • Tristeza que parece que irá lhe esmagar e puxar para o fundo do poço?
  • Ansiedade ou culpa que lhe impedem de se engajar em atividades que são importantes para você?
Você já tentou de todas as maneiras se livrar desses sentimentos desagradáveis, mas de alguma forma eles simplesmente continuam aparecendo?

Se você é um ser humano, então sua resposta a essas questões vai ser, muito provavelmente, sim. Goste ou não, sentimentos difíceis/dolorosos são uma experiência humana universal e a maioria de nós se encontra lutando contra ou tentando se livrar desses sentimentos com uma certa regularidade.  Na cultura ocidental, parece que somos frequentemente encorajados a encarar sentimentos dolorosos como uma espécie de aberração – um inconveniente a ser evitado tanto quanto for possível, um sinal de que há algo errado conosco, uma doença que precisa ser curada, uma irritação a ser abafada por uma variedade infinita de distrações. Existe um pressuposto não-declarado de que felicidade significa sentir-se bem o tempo todo e, se não estamos nos sentindo bem, concluímos então somos defeituosos de alguma forma – talvez não estejamos tendo pensamentos positivos suficientes, ou não sejamos atraentes o suficiente, ou populares o suficiente, ou talvez apenas precisemos aderir ao modismo da hora ou adicionar mais alguns amigos em nossa conta do Facebook... e assim por diante.
Infelizmente, nossos esforços para evitar ou nos livrar de sentimentos desagradáveis tendem a ser um tiro pela culatra e, no fim das contas, geram mais sofrimento. Para dar um exemplo óbvio, um viciado irá usar drogas, álcool, jogos, pornografia, etc. para tentar se livrar dos sentimentos dolorosos – e isso funciona por um curto período, mas então ele acorda no dia seguinte e os sentimentos dolorosos estão de volta, geralmente piores do que no dia anterior, então ele consome um pouco mais de álcool/drogas/etc. e assim o ciclo da dependência continua em uma espiral descendente.
Um exemplo menos óbvio são os transtornos de ansiedade. Não há nada fundamentalmente patológico em relação ao sentimento que chamamos de ansiedade – na verdade, ansiedade é uma resposta humana normal a qualquer situação em que nos encontramos “fora de nossa zona de conforto”, e potencialmente expostos a alguma forma de perigo. A ansiedade apenas se torna um transtorno quando decidimos que os sentimentos ansiosos, em si, são de algum modo errados, ruins ou perigosos, e começamos a usar diferentes tipos de estratégias (por exemplo: não sair de casa, lavar as mãos constantemente, usar álcool, nos distrairmos excessivamente) para evitar esses sentimentos. Então sempre que um sentimento de ansiedade aparece, ficamos ansiosos devido ao fato de estarmos nos sentindo ansiosos... percebe o ciclo vicioso?
Uma maneira mais produtiva de lidar com sentimentos difíceis é vê-los como “mensageiros” – como um sistema de alarme, primitivo e construído pela evolução, que nos alerta sobre o fato de que algo “não está certo” com o nosso mundo e que uma ação imediata talvez seja exigida para enfrentar a situação! As emoções também podem servir para nos lembrar do que realmente valorizamos em relação a uma situação em particular ou à vida em geral. A tabela a seguir ilustra brevemente esse conceito:

Emoção/Sentimento
Gatilho/Mensagem
Valor/Ação
Tristeza
Uma perda significativa
Cuidado/compaixão consigo mesmo e com outros; Necessidade de se ajustar e se adaptar à perda
Raiva
Dano ou injustiça
Proteger a si mesmo ou a entes queridos; Necessidade de lutar por seus direitos
Ansiedade/Medo
Perigo – real ou percebido
Se o perigo for real – defender-se ou fugir!
Se o perigo for percebido, parar por um momento para considerar respostas adequadas!
Culpa/Vergonha
Um erro ou mal foi cometido
Refletir sobre e aprender com o evento; Pedir desculpas?; Fazer melhor na próxima vez!
Nojo
Algo tóxico/contagioso
É necessário cuidado; garantir a segurança!

Contudo, nem sempre é fácil interpretar a mensagem e, algumas vezes, sentimentos dolorosos parecem vir do nada. Nesses casos, pode ser útil simplesmente ver os sentimentos como “eventos climáticos internos”; alguns dias são ensolarados e quentes; alguns dias são frios, úmidos e deprimentes – nós não tentamos mudar o clima (é inútil!), nós simplesmente o reconhecemos e ajustamos nosso comportamento conforme o necessário (por exemplo: pegamos um guarda-chuva ou passamos protetor solar), sabendo que inevitavelmente o evento climático irá passar, seguindo seu rumo natural.
Um pré-requisito básico para lidar efetivamente com sentimentos difíceis é cultivar a habilidade de se distanciar mentalmente do sentimento e simplesmente observá-lo, para que possamos interpretar a mensagem e tomar a atitude apropriada, ao invés de simplesmente se deixar levar por uma enxurrada de emoções e se acabar se comportando de forma potencialmente destrutiva. Na psicologia moderna, essa habilidade de se distanciar e observar experiências internas é conhecida como mindfulness (atenção plena). Pesquisas científicas recentes mostraram que praticar regularmente exercícios simples de mindfulness pode melhorar significativamente nossa habilidade de lidar efetivamente com sentimentos difíceis. Veja a seguir um exercício simples de mindfulness chamado “N.A.M.E. it to Tame it” (Nomeie-o para amansá-lo).

               Passo 1: Perceba: - Perceba onde o sentimento doloroso está localizado – garganta? peito? abdômen? outro local? em vários lugares? Agora foque sua atenção na parte do corpo onde o sentimento é mais intenso e intencionalmente observe a sensação, como se você fosse um cientista curioso que nunca havia encontrado um sentimento como esse antes. Perceba quaisquer características, como movimento, pressão, temperatura, vibração, pulsação. O sentimento tem um “sabor”, por exemplo, medo, raiva ou nojo? Enquanto você faz isso, sua mente certamente irá tentar distrai-lo com pensamentos como “Eu odeio esse sentimento”, “Eu quero que isso vá embora”, etc.; quando isso acontecer, simplesmente agradeça sua mente por esse comentário interessante, e retorne sua atenção para sensação.
Passo 2: Reconheça: - Use algumas palavras para reconhecer o sentimento. Talvez diga para si mesmo “Eu estou notando um sentimento de ansiedade/raiva/nojo/etc.”. Tente fazer isso com compaixão e sem julgamentos. Note qualquer ímpeto de julgar, criticar, lutar ou se livrar do sentimento; procure deixar esse ímpeto ir e vir, e permita que o sentimento seja como é. Se você tem a sensação de que este sentimento está lhe transmitindo alguma mensagem (vide exemplos na tabela anterior), pare um momento para reconhecer que mensagem pode ser essa. Tente colocar a palma da sua mão, com compaixão e gentileza, sobre a área dolorosa: na maioria das vezes, isso é reconfortante.
Passo 3: Dê espaço: - Por alguns segundos, mude a sua atenção para a sua respiração. Inspire profundamente e devagar, duas ou três vezes, mexendo sua barriga, não o seu peito. Então, enquanto você faz a próxima inspiração, dirija a respiração para dentro e por volta daquele sentimento intenso que você vem observando. Você pode interpretar esse processo da maneira que desejar – apenas tente imaginar que, de alguma forma, você está respirando para dentro e ao redor da sensação. E, enquanto você faz isso, de uma maneira mágica, um grande espaço está se abrindo dentro de você. Então, em vez de reprimir, esmagar ou comprimir o sentimento, você faz exatamente o oposto e se abre, dando muito espaço para o sentimento. Você não precisa gostar do sentimento, você simplesmente permite que o sentimento esteja lá e abre espaço para ele. Pode ajudar tentar imaginar que o sentimento é como um inseto com asas (talvez uma vespa?) que está agitado e zumbindo alto por estar em um espaço confinado. Contudo, a cada inspiração, você está enchendo um grande balão ao redor do inseto, dando ainda mais espaço para que ele voe, de modo que ele fique muito menos estressado e e com menos vontade de picar alguém!
NOTA: se você achar que respirar para dentro do sentimento é muito difícil ou não está ajudando, então apenas continue a respirar, devagar e profundamente, movimentando sua barriga, e não o seu peito.
Passo 4: Expanda a consciência: - Agora você pode permitir que sua consciência se expanda gradualmente, de modo que você não repare apenas o sentimento, mas perceba gradualmente o resto do seu corpo e tudo o que você pode ouvir, ver, sentir, tocar e cheirar. Alongue-se gentilmente, solte seu corpo, e torne-se consciente daquilo que está a sua volta. Perceba que você pode estar ciente do sentimento doloroso e, ainda assim, estar também ciente do resto de sua experiência. Agora você pode decidir que atitude tomar, baseado em seus valores pessoais e não controlado por suas emoções!
Por favor, note: - Apesar de frequentemente as pessoas sentirem que esse exercício reduz a intensidade do sentimento doloroso, isso nem sempre ocorre e não é o propósito do exercício. O objetivo é cultivar uma consciência plena em relação aos sentimentos dolorosos, para que não sejamos esmagados por eles e para que possamos tomar uma atitude efetiva para melhorarmos nossas vidas, mesmo na presença de sentimentos difíceis.

sábado, março 08, 2014



COMPREENDENDO O PÂNICO E A ANSIEDADE[1]
 
Embora uma definição verdadeira da ansiedade que cubra todos os seus aspectos seja muito difícil de ser alcançada (apesar das muitas publicações referentes ao assunto), todos conhecem este sentimento. Não há uma só pessoa que nunca tenha experimentado algum grau de ansiedade, seja por estar entrando em uma sala de aula justo antes de uma prova, ou por acordar no meio da noite certo/a de que ouviu algum ruído estranho do lado de fora da casa. Contudo, o que é menos conhecido é que sensações, tais como fortes tonteiras, manchas e borrões dos olhos, dormências ou formigamentos, músculos duros e quase paralisados e sentimentos de falta de ar que podem levar até as sensações de sufocamento ou asfixia, podem também fazer parte da reação de ansiedade. Quando estas sensações ocorrem e as pessoas não entendem o porquê, a ansiedade pode aumentar até níveis de pânico, já que elas imaginam que podem estar tendo alguma doença.
Ansiedade é a reação ao perigo ou à ameaça. Cientificamente, ansiedades imediatas ou de curto período são definidas como reações de luta-e-fuga. São assim denominadas porque todos os seus efeitos estão diretamente voltados para lutar ou fugir de um perigo. Assim, o objetivo número um da ansiedade é o de proteger o organismo. Quando nossos ancestrais viviam em caverna, era-lhes vital uma reação automática para que, quando estivessem defrontados com um perigo, fossem capazes de uma ação imediata (atacar ou fugir). Mas, mesmo nos dias agitados de hoje, este é um mecanismo necessário. Imagine que você esta atravessando a rua quando de repente um carro, a toda velocidade, vem em sua direção, buzinando freneticamente. Se você não experimentasse absolutamente nenhuma ansiedade, você seria morto. Contudo, mais provavelmente, sua reação de luta e fuga tomaria conta de você e você correria para sair do caminho dele para ficar em segurança. A moral desta estória é simples – a função da ansiedade é proteger o organismo, não prejudicá-lo.
A melhor forma de pensar sobre todos os sistemas de resposta de luta-e-fuga (ansiedade) é lembrar que todos estão voltados para deixar o organismo preparado para uma ação imediata que seu objetivo primordial é protegê-lo.
Quando alguma forma de perigo é percebida ou antecipada, o cérebro envia mensagens a uma  seção de nervos chamados sistema nervoso autônomo. Este sistema possui duas subseções ou ramos: o sistema nervoso simpático e o sistema nervoso parassimpático. São exatamente estas duas subseções que estão diretamente relacionadas no controle dos níveis de energia do corpo e de sua preparação para a ação. Colocado de uma forma mais simples, o sistema nervoso simpático é o sistema da reação de luta-e-fuga que libera energia e coloca o corpo para a ação; enquanto que o parassimpático é o sistema de restauração que traz o corpo a seu estado normal.
Um aspecto importante é que o sistema nervoso simpático tende muito a ser um sistema “tudo-ou-nada”. Isto é, quando ativado, todas as suas partes vão reagir. Em outras palavras: ou todos os sintomas são experimentados ou nenhum deles o é. É raro que ocorram mudanças em apenas uma parte do corpo somente. Isto talvez explique o  fato de ataques de pânico envolver tantos sintomas e não apenas um ou dois.
Um dos efeitos principais do sistema nervoso simpático é a liberação de duas substâncias químicas no organismo: adrenalina e noradrenalina, fabricadas pelas glândulas supra-renais. Estas substâncias, por sua vez, são usadas como mensageiras pelo sistema nervoso simpático para continuar a atividade, de modo que, uma vez que estas atividades comecem, elas freqüentemente continuam e aumentam durante certo período de tempo. Contudo, é muito importante observar que a atividade no sistema nervoso simpático é interrompida de duas formas. Primeiramente, as substâncias que serviam como mensageiras -  adrenalina e noradrenalina – são de alguma forma destruídas por outras substâncias do corpo. Segundo, o sistema nervoso parassimpático – que geralmente tem efeitos opostos ao sistema nervoso simpático – fica ativado e restaura uma sensação de relaxamento. É importante perceber que, em algum momento, o corpo cansará da reação de luta-ou-fuga e ele próprio ativará o sistema nervoso parassimpático para restaurar um estado de relaxamento. Em outras palavras, a ansiedade não pode continuar sempre aumentando e entrar numa espiral sempre crescente que conduza a níveis possivelmente prejudiciais. O sistema nervoso parassimpático é um protetor “embutido” que impede o sistema nervoso simpático de se desgovernar. Outra observação importante é que as substâncias mensageiras, adrenalina e noradrenalina, levam algum tempo para serem destruídas. Assim, mesmo depois que o perigo tenha passado e que seu sistema nervoso simpático já tenha parado de reagir, você ainda se sentirá alerta e apreensivo por algum tempo, porque as substâncias ainda estão “flutuando” em seu sistema. Você deve sempre lembrar-se que isto é absolutamente natural e sem perigo. Aliás, isto é uma função adaptativa porque, num ambiente selvagem, o perigo geralmente tem o hábito de atacar de novo, e é útil ao organismo estar preparado para ativar o mais rápido possível a reação de luta-e-fuga.
A atividade no sistema nervoso simpático produz uma aceleração do batimento cardíaco, como também um aumento na sua força. Isto é vital para a preparação da luta-ou-fuga, já que ajuda a tornar mais veloz o fluxo de sangue e assim melhora a distribuição de oxigênio nos tecidos e a remoção de produtos inúteis nos mesmos. É devido a isso que experimentamos um batimento cardíaco acelerado ou muito forte, típicos de períodos de alta ansiedade ou pânico. Além da aceleração do batimento cardíaco, há também uma mudança no fluxo do sangue. Basicamente, o sangue redirigido sendo “reduzido” em algumas partes do corpo onde ele não é tão essencial naquele momento (através do estreitamento dos vasos sanguíneos) e é direcionado as partes onde é mais essencial (através da expansão dos vasos sanguíneos). Por exemplo, o fluxo de sangue é reduzido na pele, nos dedos nas mãos e dos pés. Este mecanismo é útil para que, se a pessoa for atacada ou ferida de alguma forma, este mesmo mecanismo impedirá que a pessoa morra por hemorragia. Por isso, durante a ansiedade, a pele fica pálida e sentimos frio em nossas mãos e pés, e até mesmo algumas vezes podemos sentir dormências ou formigamentos. Por outro lado, o sangue é direcionado aos músculos grandes, como os das coxas ou os bíceps, o que ajuda o corpo em sua preparação para ação.
A reação de luta-e-fuga esta associada também com o crescimento da velocidade e profundidade da respiração. Isto tem uma importância óbvia para a defesa do organismo, já que os tecidos precisam de mais oxigênio para estar preparados para a ação. As sensações provocadas por este aumento na função respiratória podem, contudo, incluir sensações de falta de ar, de engasgar ou sufocar, e até mesmo dores e pressões no peito. Também importante é o efeito colateral decorrente do crescimento na função respiratória, especialmente se nenhuma atividade real ocorra que é a de haver uma redução real do fluxo de sangue para a cabeça. Por ser uma quantidade insignificante, não chega a ser perigoso para a saúde, mas produz uma série de sintomas desagradáveis (mas sem prejuízo algum) e que podem incluir tonteiras, visão borrada, confusão, fuga da realidade e sensações de frio e calor fortes.
A ativação da reação de luta-e-fuga produz um aumento na transpiração. Isto tem funções adaptativas importantes, como, por exemplo, tornar a pele mais escorregadia para que, dessa forma, fique mais difícil para um predador agarrar um corpo e também para resfriá-lo de modo a evitar um superaquecimento.
A ativação do sistema nervoso simpático produz uma série de outros efeitos, nenhum dos quais, sendo de modo algum prejudicial ao corpo. Por exemplo, as pupilas se dilatam para permitir a entrada de mais luminosidade, o que pode resultar em uma visão borrada, manchas na frente dos olhos e assim por diante. Ocorre também uma redução na produção de saliva, resultando em uma boca seca. Há uma redução na atividade do sistema digestivo, o que geralmente produz náuseas, uma sensação de peso no estomago e também constipação ou diarréia. Por fim, diversos grupos de músculos se tencionam preparando-se para a reação de luta-e-fuga e isso resulta em sintomas de tensão, muitas vezes estendendo-se a dores reais como também a tremores.
Acima de tudo, a reação de luta-e-fuga resulta em uma ativação geral do metabolismo corporal. Por isso uma pessoa pode sentir sensações de calor e frio e, porque este processo utiliza muito energia, depois a pessoa se sente geralmente cansada e esgotada.
Como já mencionamos antes, a reação de luta-e-fuga prepara o corpo para a ação – seja atacar ou fugir. Por isso, não é surpreendente que os impulsos avassaladores associados com esta reação sejam os de agressão e de desejo de fugir. Quando estes não são capazes de serem realizados (devido à coação social), os estímulos serão freqüentemente expressos por comportamentos como bater os pés, marcar passos ou insultar pessoas. Isto é, os sentimentos produzidos são como os de quem está preso e está precisando fugir.
O efeito número um da reação de luta-e-fuga é alertar o organismo para a possível existência do perigo. Portanto, há uma mudança automática e imediata na atenção para pesquisar o ambiente em busca de ameaças em potencial. Por isso, passa a ser muito difícil concentrar-se em tarefas diárias quando alguém esta ansioso. Pessoas ansiosas freqüentemente se queixam de ficarem facilmente distraídas durante tarefas do dia-a-dia; de não conseguirem se concentrar e terem problemas de memória. Às vezes uma ameaça óbvia não pode ser encontrada. Infelizmente, a maioria das pessoas não aceita o fato de não encontrar uma explicação para alguma coisa. Portanto, em muitos casos, quando as pessoas não conseguem explicar seus sentimentos, elas tentem a procurar em si próprias. Em outras palavras, “se nada exterior esta me deixando ansioso, então deve haver algo de errado comigo mesmo”. Neste caso, o cérebro inventa uma explicação como “eu devo estar morrendo, perdendo o controle ou ficando louco.” Como já vimos nada poderia ser menos verdadeiro, já que a função primordial da reação de luta-e-fuga é a de proteger o organismo, e não de prejudicá-lo. Por isso mesmo, são pensamentos compreensíveis.
Até agora, nós observamos as reações e os componentes da ansiedade em geral ou da reação de luta-e-fuga. Contudo, você pode estar se perguntando como tudo isso se aplica a ataques de pânico. Afinal, porque a reação de luta-e-fuga é ativada durante um ataque de pânico, já que não há, aparentemente, nada a temer?
De acordo com uma grande quantidade de pesquisas, parece que pessoas que experimentam ataque de pânico têm medo (p. ex., o que causa o pânico) das próprias sensações de luta-e-fuga. Assim, ataques de pânico podem ser vistos como uma série de sintomas físicos inesperados e uma reação de pânico ou de medo desses sintomas. A segunda parte deste modelo é fácil de ser compreendida. Como já visto antes, a reação de luta-e-fuga (onde o sintoma físico tem um papel importante) leva o cérebro a procurar perigos. Quando o cérebro não consegue encontrar nenhum perigo óbvio, ele passa a procurar no interior da pessoa e inventa um perigo como “estou morrendo, estou perdendo o controle, etc”. Como as interpretações dos sintomas físicos são assustadoras, é compreensível o aparecimento do medo e do pânico. Por sua vez, estes dois sentimentos produzem mais sintomas físicos, e por isso se introduz um ciclo de sintomas, medo, sintomas, medo e assim por diante. A primeira parte do modelo é mais difícil de ser compreendida: por que você experimenta os sintomas físicos da reação de luta-e-fuga se você não está com medo? Existem muitas formas para que estes sintomas sejam produzidos; não apenas através do medo. Por exemplo, você está estressado e isto resulta em um aumento da produção de adrenalina e outras substancias que, de tempo em tempo, produzem estes sintomas. Este aumento na produção de adrenalina pode ser quimicamente mantido no organismo, mesmo depois do desaparecimento do fator que gerava este stress. Outra possibilidade é que você tende a respirar um pouco mais rápido (hiperventilação sutil) devido a um hábito já aprendido, e isto também pode produzir estes sintomas. Como a hiper-respiração é menos intensa, você pode se acostumar com esta forma de respiração, e não reparar que você está hiper-ventilando. Uma terceira possibilidade é que você esteja experimentando mudanças naturais em seu corpo ( o que todos experimentam, mas nem todos as percebem) e, justamente, por estar constantemente verificando e monitorando seu corpo, você passa a reparar muito mais nestas sensações do que as outras pessoas. Além das duas outras razões já descritas que produzem sintomas físicos (estresse e hiper-respiração), você também poderá se tornar consciente destes sintomas físico como resultado de um processo denominado condicionamento interoceptivo. Como os sintomas físicos ficaram associados com o trauma do pânico, eles se tornaram sinais significativos de perigos e ameaças a você (isto é, eles se tornaram estímulos condicionados). Como resultado, é muito provável que você se torne altamente sensível a estes sintomas e reaja com receio, simplesmente devido a experiências passadas de pânico com as quais elas foram associadas. Como conseqüência deste tipo de associação condicionada, é possível que sintomas produzidos por atividades regulares sejam também levados ao ponto de uma crise de pânico.
Mesmo que não estejamos certos do fato de por que alguém experimenta os sintomas iniciais, assegura-se de que eles  são uma parte da reação de luta-e-fuga e por isso inofensivo a qualquer pessoa.
Obviamente, então, uma vez acreditando convictamente (100%) que estas sensações físicas não são perigosas, o medo e o pânico desaparecerão e você não mais experimentará ataques de pânico. É claro que, quando diversos ataques já tenham sido experimentados por você, e que você tenha interpretado erroneamente estes sintomas muitas vezes, esta interpretação errada torna-se bastante automática, e assim passa a ser muito difícil de, conscientemente, convencer-se de que estes sintomas são inofensivos.
Resumindo, a ansiedade é cientificamente conhecida como reação de luta-e-fuga, sendo sua função primordial de ativar o organismo e de protegê-lo do perigo. Associadas a esta reação estão uma série de mudanças mentais, físicas e comportamentais. É importante notar que, uma vez que o perigo tenha desaparecido muito dessas mudanças (especialmente as físicas) continuarão, praticamente com controle autônomo sobre si próprias, devido ao aprendizado e as outras mudanças corporais de longo prazo. Quando os sintomas físicos surgem na ausência de uma explicação óbvia, as pessoas costumam interpretar erradamente os sintomas de luta-e-fuga como indicativos de sérios problemas mentais ou físicos. Neste caso, as próprias sensações podem se tornar ameaçadoras e, justamente por isso, pode desencadear uma nova reação de luta-e-fuga. Muitas pessoas, quando experimentam os sintomas da reação de luta-e-fuga, acreditam estar ficando loucas. Elas costumam mais freqüentemente relacionar tais sintomas com uma doença mental grave, conhecida como esquizofrenia. Observemos um pouco a esquizofrenia para compararmos o quão freqüente isto ocorre.
Esquizofrenia é um transtorno grave caracterizado por fortes sintomas, como, por exemplo, fala e pensamento deslocados, algumas vezes levando a balbucios, delírios ou crenças estranhas (p.ex., que mensagens estão sendo percebidas desde o espaço) e alucinações (ouvir vozes falarem dentro da própria cabeça). Também, a esquizofrenia parece ser em grande parte um transtorno com base genética, ocorrendo fortemente em famílias.
A esquizofrenia geralmente se inicia de forma gradual e não de repente (como  em um ataque de pânico). Também, justamente porque ocorre em famílias, apenas certa proporção de pessoas tende a tornar-se esquizofrênica, e ainda, em outras pessoas, nenhuma quantidade de estresse causaria como conseqüência o transtorno em questão. Um terceiro ponto também muito importante é que pessoas esquizofrênicas exibem alguns dos sintomas, leves do transtorno por grande parte de suas vidas (p.ex., pensamentos estranhos e fala florida). Desta forma, se essas características não tiverem sido ainda percebidas em sua personalidade, a maior probabilidade é de você não se tornar um esquizofrênico. Esta chance diminui ainda se você já tem mais de 25 anos, já que a esquizofrenia surge geralmente no final da adolescência até os 20 anos. Finalmente, se você já passou por entrevistas com um psicólogo ou psiquiatra, você pode estar certo de que eles saberiam imediatamente diagnosticá-lo como esquizofrênico.
Algumas pessoas acreditam que vão “perder o controle”quando entrarem em pânico. Presumivelmente, elas acham que vão paralisar completamente e ficarão incapazes de se mover, ou que não vão saber o que estão fazendo e por isso vão sair disparados matando pessoas, ou gritando obscenidades e se envergonhando diante de outros. Por outro lado, podem não saber o que possa acontecer, mas podem também experimentar um sentimento dominante de “catástrofe iminente”.
Considerando nossas discussões anteriores, podemos agora saber de onde surge este sentimento. Durante uma crise de ansiedade, o corpo está preparado para ação e neste momento há um enorme desejo de fuga. Contudo, a reação de luta-e-fuga não está preparada e treinada a prejudicar terceiros (que não sejam uma ameaça) e não produzirá paralisia. Ao invés disso, toda reação é direcionada a afastar o organismo. Alem disso, nunca houve nenhum caso registrado de alguém que tenha se descontrolado a tal ponto. Mesmo que a reação de luta-e-fuga o faça sentir-se um pouco confuso, irreal e distraído, você ainda é capaz de pensar e funcionar normalmente. Simplesmente pense sobre quão freqüente as outras pessoas nem notam que você está tendo um ataque de pânico.
Muita pessoa tem receio do que lhes pode acontecer como conseqüência a seus sintomas, talvez devido a alguma crença de que seus nervos podem se esgotarem e elas possam talvez entrar em colapso. Como já discutido anteriormente, a reação de luta-e-fuga é produzida dominantemente por atividade do sistema nervoso simpático, que é combatida pelo sistema nervoso parassimpático. O sistema parassimpático é de certa forma, uma salva-guarda contra a possibilidade de o sistema  simpático “danificar-se”. Os nervos são como fios elétricos e a ansiedade não são capazes de danificá-los, prejudicá-los ou desgastá-los. E  a pior coisa que poderia acontecer durante um ataque de pânico seria que a pessoa poderia desmaiar, sendo que, se isso acontecesse, o sistema nervoso simpático interromperia sua atividade e a pessoa recuperaria seus sentidos em poucos segundos. Contudo, desmaiar em conseqüência da reação de luta-e-fuga é extremamente raro, mas, se isso acontecer, é um modo adaptativo de impedir que o sistema nervoso simpático fique fora de controle.
Muitas pessoas interpretam erradamente os sintomas da reação de luta-e-fuga e acreditam que elas estejam morrendo de um ataque cardíaco. Isto é porque talvez muitas pessoas não tenham um conhecimento suficiente sobre ataques cardíacos. Vamos rever os fatos sobre a doença coronária e ver como isso difere de ataques de pânico.
Os sintomas principais de ataques cardíacos são falta de ar e dores no peito, como também, ocasionalmente, palpitações e desmaio. Os sintomas de ataques cardíacos estão geralmente relacionados diretamente com esforço. Isto é, com quanto mais esforço você se exercitar, piores serão os sintomas; e quanto menos você se esforçar, melhores. Os sintomas desaparecerão de forma relativamente rápida com descanso. Isto é muito diferente dos sintomas associados com ataques de pânico, que freqüentemente ocorrem durante um estado de repouso e parecem ter vida própria. Certamente, ataque de pânico podem ocorrer durante exercícios ou podem inclusive piorar com exercícios, mas são diferentes de ataques cardíacos, pois podem se produzir também freqüentemente durante repouso. Mais importante ainda é notar que um ataque cardíaco irá quase sempre produzir mudanças elétricas no coração que podem ser detectadas em eletrocardiogramas (ECG). Em ataques de pânico, a única mudança que é detectada por um ECG é um pequeno aumento no ritmo cardíaco. Por isso, se você já passou por um eletrocardiograma e o doutor disse que tudo está bem, esteja certo que você não sofre de nenhum problema no coração. Também, se seus sintomas ocorrem a qualquer momento e não apenas após um esforço físico, isto é uma evidencia adicional contra a possibilidade de um ataque cardíaco.

 



[1] Texto extraído de: Barlow, D. H. (1999). Manual clínico dos transtornos psicológicos. (2. ed.). Porto Alegre: Artmed

domingo, fevereiro 09, 2014

O que é Terapia Comportamental
 
Psicoterapia na Análise do comportamento é um processo privilegiado de crescimento humano que envolve duas pessoas (o terapeuta e o cliente). Juntos eles buscam identificar, explorar e analisar ações, pensamentos e todas as nuances de emoções que possam estar trazendo ao cliente problemas ou transtornos para sua vida e/ou para a vida das pessoas que o rodeia. Em última instância, a psicoterapia nos dá um espaço, um tempo, uma privacidade e uma oportunidade para ouvirmos nossos próprios pensamentos, prestarmos atenção em nossos sentimentos, olharmos o nosso ambiente, revermos nossa visão de mundo e assim nos relacionarmos com ele a partir de um jeito novo de ser. Psicoterapia Comportamental (TC) é o nome dado à abordagem em psicoterapia que se fundamenta no Behaviorismo Radical de B. F. Skinner. Ela se caracteriza por fundamentar-se em princípios sobre o comportamento, definidos a partir de conhecimentos teóricos e práticos, preocupando-se ainda com a comprovação científica de seus procedimentos. Ao contrário do que muitos pensam, ela não trata apenas dos “sintomas observáveis”, mas entende o comportamento como uma relação entre o sujeito e o seu ambiente. Portanto, o terapeuta comportamental investiga vários aspectos do comportamento (motores, afetivos, cognitivos) e busca estabelecer relações deste comportamento com as condições físicas e sociais em que estes ocorrem. O processo terapêutico consiste numa análise funcional (em função de que) do comportamento do cliente. Normalmente o cliente “busca alguém que o ‘cure', isto é, sente e percebe em sua vida que algo está errado, e quer mudar. No entanto, o analista do comportamento sabe que o comportamento que o indivíduo emite foi selecionado pelas conseqüências, tem uma função dentro do seu repertório, mesmo quando aparentemente é inadequado.”... “Portanto, a primeira consideração que precisa ser feita é que o comportamento do cliente tem uma função . Cabe ao terapeuta descobrir porque (em que contingências) este comportamento se instalou e como ele se mantém. Esta descoberta se faz pela análise funcional que, em clínica, envolve pelo menos 3 momentos da vida do cliente: sua história passada, seu comportamento atual e sua relação com o terapeuta”. (Delitti, 1997)
No processo terapêutico, as indagações do terapeuta auxiliam o indivíduo a estabelecer relações funcionais entre seu modo de agir e sentir e as circunstâncias antecedentes e conseqüentes que controlam seu comportamento. Nesse processo, o terapeuta passa a representar o ambiente verbal que fornece as contingências necessárias à auto-observação. 
“A psicoterapia é, freqüentemente, um espaço para aumentar a auto-observação, para ‘trazer à consciência' uma parcela maior daquilo que é feito e das razões pelas quais as coisas são feitas. Tanto na psicoterapia como na literatura, a análise da personalidade é freqüentemente denominada ‘busca do eu'. Mais freqüentemente como ‘busca do verdadeiro eu', um eu que deve ser procurado porque presumivelmente está escondido”. (SKINNER, 1989 pg.47).
O terapeuta comportamental pode ainda contar com o auxílio de um conjunto de técnicas de modificação de comportamento, em casos necessários, cuja eficácia já foi clinicamente comprovada e auxiliam o cliente no seu restabelecimento psicossocial, quando sua interação social foi seriamente comprometida em função de transtornos específicos.
A psicoterapia comportamental é amplamente utilizada no tratamento dos transtornos de humor, no tratamento dos transtornos de ansiedade, dos transtornos psicossomáticos e alimentares. (SHINOHARA, 1997) O reconhecimento de seu potencial terapêutico também vem ocorrendo por outros profissionais da área de saúde mental.

 

domingo, janeiro 19, 2014

Guia para Compreender os Esquemas
Baseado em: Leahy, R. L. (2006). Técnicas de Terapia Cognitiva: Manual do Terapeuta. Porto Alegre: Artmed
Descobrimos que as pessoas diferem naquilo que as deixa deprimidas, ansiosas ou com raiva. Referimo-nos a essas diferenças como esquemas. Esquemas são as maneiras habituais por meio das qual você vê as coisas. Por exemplo, a depressão caracteriza-se por esquemas relacionados à perda, privação e fracasso; ansiedade é caracterizada por esquemas relacionados à ameaça ou medo de fracasso; e a raiva caracteriza-se por esquemas relacionados a insulto, humilhação ou violação de regras. Pesquisas sobre personalidade indicam que as pessoas diferem nos temas subjacentes à depressão, ansiedade ou raiva.
Cada um de nós vê as próprias experiências em termos de certos padrões habituais de pensamento. Uma pessoa pode focar muito as questões envolvendo realização, outra as questões em torno da rejeição e outra ainda as questões ligadas ao medo de ser abandonada. Digamos que seu esquema — sua questão ou vulnerabilidade em particular — esteja relacionado com realização. As coisas podem estar indo bem você no trabalho, mas então você tem um contratempo que ativa seu esquema sobre realização — a necessidade de ser muito bem-sucedido de modo que não se veja como fracasso. O contratempo no trabalho levar ao esquema de fracasso (ou estar ”na média”, o que equivale a fracasso), e então você fica ansioso ou deprimido.
Ou digamos que seu esquema esteja relacionado a questões de abandono. Você pode estar muito vulnerável a quaisquer sinais de rejeição ou abandono. Enquanto o relacionamento for bem, você não fica preocupado. Mas, devido a esse esquema, você pode preocupar-se com o abandono ou a rejeição. Se o relacionamento acaba, isto o leva a sentir-se deprimido porque não suporta ficar sozinho.
 
Como Compensamos Nossos Esquemas
Se você tem um esquema sobre uma questão específica, pode tentar compensar essa vulnerabilidade. Por exemplo, se você tem um esquema de fracasso ou indicando que estar na média seja ruim, você trabalhar excessivamente — neste caso, você está tentando compensar a percepção de que pode acabar sendo inferior ou não ter um desempenho à altura de seus padrões de perfeição. Você pode compensar checando seu trabalho repetida vezes. Como conseqüência, as pessoas podem vê-lo como muito absorvido no trabalho. Você pode encontrar dificuldades em relaxar, pois se preocupa por não estar trabalhando o suficiente, que algo deixou de ser feito, ou que está perdendo sua motivação.
Se seu esquema é de abandono, você pode compensá-lo dedicando todo o tempo a seu parceiro ou parceira. Você pode temer ser assertivo, pois teme ser abandonado. Ou você pode constantemente buscar um reasseguramento  junto a seu parceiro de forma a sentir-se seguro, mas isto não dura muito tempo. Você continua vendo sinais indicando que seu parceiro irá embora. Outra forma de compensar o esquema de abandono constituir relações com pessoas que não satisfazem suas necessidades, mas com quem deseja estar ligado porque não quer ficar sozinho. Ou permanece em relacionamentos muito além do ponto que parece razoável, pois pensa que não vai suportar ficar sozinho.
Como você pode ver, tentar compensar os esquemas subjacentes pode criar problemas adicionais. A ”compensação” pode levá-lo a sacrificar suas necessidades, trabalhar compulsivamente, buscar relacionamentos desvantajosos, preocupação, exigência de segurança e outros comportamentos problemáticos. E o fato mais importante sobre essas compensações é que você nunca realmente aborda seu esquema subjacente. Por exemplo, você pode nem mesmo questionar sua crença de que tem de ser especial, superior, evitar ficar na média, evitar ficar sozinho, etc. Portanto, você nunca realmente modifica o esquema. Ele continua lá — pronto para ser ativado por certos acontecimentos. É sua vulnerabilidade contínua.
 
Como Evitamos Enfrentar os Esquemas
Outro processo que cria problemas é a “esquiva do esquema”. Isto significa que você tenta evitar enfrentar quaisquer questões que toquem seu esquema. Digamos que você tenha um esquema de fracasso; sua idéia é de que, no fundo, você deve ser realmente incompetente. Uma maneira pela qual você pode evitar testar esse esquema é nunca encarar tarefas desafiadoras ou abandonar as tarefas rapidamente. Ou, digamos que você tenha um esquema que lhe indique não ser digno de amor ou não ser atraente. Como você evita enfrentar o esquema? Você pode evitar contatos com as pessoas que pensa que não irão aceitá-lo. Você pode evitar namorar, pode evitar telefonar aos amigos, pois assume de antemão que as pessoas acham que você não tem nada a oferecer. Ou, digamos que você tenha medo de ser abandonado. Você poderia evitar esse esquema não permitindo aproximar-se de ninguém, ou poderia romper com a outra pessoa precocemente para não ser rejeitado mais tarde.
Outra forma pela qual as pessoas evitam os esquemas — quaisquer que sejam eles — é por intermédio de fuga emocional com uso de substâncias ou comportamentos extremos, como beber muito, usar drogas para aliviar sentimentos, comer compulsivamente ou mesmo atuar sexualmente. Você pode sentir que lidar com os sentimentos é tão doloroso que precisa evitá-los ou fugir deles com esses comportamentos que viciam. Tais comportamentos “escondem” de você seus medos subjacentes, pelo menos enquanto se alimenta compulsivamente, bebe muito ou usa drogas. É claro, os sentimentos ruins voltam novamente, pois você não está realmente examinando e contestando os esquemas subjacentes. E, ironicamente, esses comportamentos que viciam se inserem nos esquemas negativos, fazendo-o sentir-se ainda pior em relação a si mesmo.
De Onde vêm os Esquemas?
Aprendemos esses esquemas negativos com nossos pais, irmãos, colegas e parceiros. Os pais podem contribuir com os esquemas negativos ao fazê-lo sentir que não é bom o suficiente a menos que seja superior a todos, dizendo a você que é muito gordo ou que não é atraente, comparando-o com outras crianças que estão “se saindo melhor”, dizendo que você é egoísta porque tem necessidades, ou se intrometendo em sua vida e dando ordens, ou ameaçando se matarem ou abandoná-lo. Existem muitas maneiras diferentes pelas quais os pais ensinam às crianças esses esquemas negativos sobre si próprias e sobre os outros.
Por exemplo, pense nas seguintes experiências reais que algumas pessoas recordaram sobre como seus pais lhes “ensinaram” os esquemas negativos:
1. “Você poderia sair-se melhor - por que tirou aquele B?”: esquema envolvendo a necessidade de ser perfeito ou evitar inferioridade.
2. “Suas coxas são muito gordas e seu nariz é feio”: esquema de obesidade e feiúra.
3. “Seu primo foi para Harvard - por que você não pode ser mais parecido com ele?”: esquema de inferioridade e incompetência.
4. “Por que vocês estão sempre reclamando? Vocês não percebem que tenho problemas ao cuidar de vocês, crianças?”: esquema de exclusivismo das necessidades.
5. “Talvez eu devesse simplesmente ir embora e deixar vocês crianças cuidarem de si mesmas”: esquema de sobrecarga e abandono.
Conforme indicamos, outras pessoas que não nossos pais podem ser fontes de esquemas. Talvez seu irmão ou irmã o tenham maltratado levando-o a formar esquemas de abuso, não-merecimento de amor, rejeição ou controle. Ou talvez seu parceiro ou parceira tenha lhe dito que você não é bom ou boa o suficiente, levando a esquemas de não ser atraente, não ter valor e não ser digno de amor. Nós até internalizamos esquemas a partir da cultura popular, como imagens de ser esbelta e bonita, ter corpo perfeito, de “como homens de verdade deveriam ser”, sexo perfeito, rios de dinheiro e enorme sucesso. Essas imagens irreais reforçam esquemas de perfeição, superioridade, inadequação e imperfeição.
Como a Terapia Poderá Ajudar?
A Terapia Cognitiva pode ajudá-lo de várias maneiras importantes:
• Aprendendo quais são seus esquemas específicos.
• Aprendendo como você compensa e evita os esquemas.
• Aprendendo como os esquemas são mantidos ou reforçados pelas escolhas que você fez ou as experiências que teve.
• Examinando como seus esquemas foram aprendidos.
• Contestando e modificando os esquemas negativos.
• Desenvolvendo novos esquemas, mais adaptados e mais positivos
 
Arthur Gumarães - Psicoterapeuta Holístico - CRTH-BR 0899 - ABRATH
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