COMPREENDENDO O
PÂNICO E A ANSIEDADE[1] |
Embora
uma definição verdadeira da ansiedade que cubra todos os seus aspectos seja
muito difícil de ser alcançada (apesar das muitas publicações referentes ao
assunto), todos conhecem este sentimento. Não há uma só pessoa que nunca tenha
experimentado algum grau de ansiedade, seja por estar entrando em uma sala de
aula justo antes de uma prova, ou por acordar no meio da noite certo/a de que
ouviu algum ruído estranho do lado de fora da casa. Contudo, o que é menos conhecido
é que sensações, tais como fortes tonteiras, manchas e borrões dos olhos,
dormências ou formigamentos, músculos duros e quase paralisados e sentimentos
de falta de ar que podem levar até as sensações de sufocamento ou asfixia,
podem também fazer parte da reação de ansiedade. Quando estas sensações ocorrem
e as pessoas não entendem o porquê, a ansiedade pode aumentar até níveis de
pânico, já que elas imaginam que podem estar tendo alguma doença.
Ansiedade
é a reação ao perigo ou à ameaça. Cientificamente, ansiedades imediatas ou de
curto período são definidas como reações de luta-e-fuga. São assim denominadas
porque todos os seus efeitos estão diretamente voltados para lutar ou fugir de
um perigo. Assim, o objetivo número um da ansiedade é o de proteger o
organismo. Quando nossos ancestrais viviam em caverna, era-lhes vital uma
reação automática para que, quando estivessem defrontados com um perigo, fossem
capazes de uma ação imediata (atacar ou fugir). Mas, mesmo nos dias agitados de
hoje, este é um mecanismo necessário. Imagine que você esta atravessando a rua
quando de repente um carro, a toda velocidade, vem em sua direção, buzinando
freneticamente. Se você não experimentasse absolutamente nenhuma ansiedade,
você seria morto. Contudo, mais provavelmente, sua reação de luta e fuga
tomaria conta de você e você correria para sair do caminho dele para ficar em
segurança. A moral desta estória é simples – a função da ansiedade é proteger o
organismo, não prejudicá-lo.
A
melhor forma de pensar sobre todos os sistemas de resposta de luta-e-fuga
(ansiedade) é lembrar que todos estão voltados para deixar o organismo
preparado para uma ação imediata que seu objetivo primordial é protegê-lo.
Quando
alguma forma de perigo é percebida ou antecipada, o cérebro envia mensagens a
uma seção de nervos chamados sistema nervoso autônomo.
Este sistema possui duas subseções ou ramos: o sistema nervoso simpático e o sistema nervoso parassimpático. São
exatamente estas duas subseções que estão diretamente relacionadas no controle
dos níveis de energia do corpo e de sua preparação para a ação. Colocado de uma
forma mais simples, o sistema nervoso simpático é o sistema da reação de
luta-e-fuga que libera energia e coloca o corpo para a ação; enquanto que o
parassimpático é o sistema de restauração que traz o corpo a seu estado normal.
Um
aspecto importante é que o sistema nervoso simpático tende muito a ser um
sistema “tudo-ou-nada”. Isto é, quando ativado, todas as suas partes vão
reagir. Em outras palavras: ou todos os sintomas são experimentados ou nenhum
deles o é. É raro que ocorram mudanças em apenas uma parte do corpo somente.
Isto talvez explique o fato de ataques
de pânico envolver tantos sintomas e não apenas um ou dois.
Um dos
efeitos principais do sistema nervoso simpático é a liberação de duas
substâncias químicas no organismo: adrenalina e noradrenalina, fabricadas pelas glândulas supra-renais.
Estas substâncias, por sua vez, são usadas como mensageiras pelo sistema
nervoso simpático para continuar a atividade, de modo que, uma vez que estas
atividades comecem, elas freqüentemente continuam e aumentam durante certo
período de tempo. Contudo, é muito importante observar que a atividade no
sistema nervoso simpático é interrompida de duas formas. Primeiramente, as substâncias
que serviam como mensageiras -
adrenalina e noradrenalina – são de alguma forma destruídas por outras
substâncias do corpo. Segundo, o sistema nervoso parassimpático – que
geralmente tem efeitos opostos ao sistema nervoso simpático – fica ativado e
restaura uma sensação de relaxamento. É importante perceber que, em algum
momento, o corpo cansará da reação de luta-ou-fuga e ele próprio ativará o
sistema nervoso parassimpático para restaurar um estado de relaxamento. Em
outras palavras, a ansiedade não pode continuar sempre aumentando e entrar numa
espiral sempre crescente que conduza a níveis possivelmente prejudiciais. O
sistema nervoso parassimpático é um protetor “embutido” que impede o sistema
nervoso simpático de se desgovernar. Outra observação importante é que as
substâncias mensageiras, adrenalina e noradrenalina, levam algum tempo para
serem destruídas. Assim, mesmo depois que o perigo tenha passado e que seu
sistema nervoso simpático já tenha parado de reagir, você ainda se sentirá
alerta e apreensivo por algum tempo, porque as substâncias ainda estão
“flutuando” em seu sistema. Você deve sempre lembrar-se que isto é
absolutamente natural e sem perigo. Aliás, isto é uma função adaptativa porque,
num ambiente selvagem, o perigo geralmente tem o hábito de atacar de novo, e é
útil ao organismo estar preparado para ativar o mais rápido possível a reação
de luta-e-fuga.
A
atividade no sistema nervoso simpático produz uma aceleração do batimento
cardíaco, como também um aumento na sua força. Isto é vital para a preparação
da luta-ou-fuga, já que ajuda a tornar mais veloz o fluxo de sangue e assim
melhora a distribuição de oxigênio nos tecidos e a remoção de produtos inúteis
nos mesmos. É devido a isso que experimentamos um batimento cardíaco acelerado
ou muito forte, típicos de períodos de alta ansiedade ou pânico. Além da
aceleração do batimento cardíaco, há também uma mudança no fluxo do sangue.
Basicamente, o sangue redirigido sendo “reduzido” em algumas partes do corpo
onde ele não é tão essencial naquele momento (através do estreitamento dos
vasos sanguíneos) e é direcionado as partes onde é mais essencial (através da
expansão dos vasos sanguíneos). Por exemplo, o fluxo de sangue é reduzido na
pele, nos dedos nas mãos e dos pés. Este mecanismo é útil para que, se a pessoa
for atacada ou ferida de alguma forma, este mesmo mecanismo impedirá que a
pessoa morra por hemorragia. Por isso, durante a ansiedade, a pele fica pálida
e sentimos frio em nossas mãos e pés, e até mesmo algumas vezes podemos sentir
dormências ou formigamentos. Por outro lado, o sangue é direcionado aos
músculos grandes, como os das coxas ou os bíceps, o que ajuda o corpo em sua
preparação para ação.
A
reação de luta-e-fuga esta associada também com o crescimento da velocidade e
profundidade da respiração. Isto tem uma importância óbvia para a defesa do
organismo, já que os tecidos precisam de mais oxigênio para estar preparados
para a ação. As sensações provocadas por este aumento na função respiratória
podem, contudo, incluir sensações de falta de ar, de engasgar ou sufocar, e até
mesmo dores e pressões no peito. Também importante é o efeito colateral
decorrente do crescimento na função respiratória, especialmente se nenhuma
atividade real ocorra que é a de haver uma redução real do fluxo de sangue para
a cabeça. Por ser uma quantidade insignificante, não chega a ser perigoso para
a saúde, mas produz uma série de sintomas desagradáveis (mas sem prejuízo
algum) e que podem incluir tonteiras, visão borrada, confusão, fuga da realidade
e sensações de frio e calor fortes.
A
ativação da reação de luta-e-fuga produz um aumento na transpiração. Isto tem
funções adaptativas importantes, como, por exemplo, tornar a pele mais
escorregadia para que, dessa forma, fique mais difícil para um predador agarrar
um corpo e também para resfriá-lo de modo a evitar um superaquecimento.
A
ativação do sistema nervoso simpático produz uma série de outros efeitos,
nenhum dos quais, sendo de modo algum prejudicial ao corpo. Por exemplo, as
pupilas se dilatam para permitir a entrada de mais luminosidade, o que pode
resultar em uma visão borrada, manchas na frente dos olhos e assim por diante.
Ocorre também uma redução na produção de saliva, resultando em uma boca seca.
Há uma redução na atividade do sistema digestivo, o que geralmente produz
náuseas, uma sensação de peso no estomago e também constipação ou diarréia. Por
fim, diversos grupos de músculos se tencionam preparando-se para a reação de
luta-e-fuga e isso resulta em sintomas de tensão, muitas vezes estendendo-se a
dores reais como também a tremores.
Acima
de tudo, a reação de luta-e-fuga resulta em uma ativação geral do metabolismo
corporal. Por isso uma pessoa pode sentir sensações de calor e frio e, porque
este processo utiliza muito energia, depois a pessoa se sente geralmente
cansada e esgotada.
Como
já mencionamos antes, a reação de luta-e-fuga prepara o corpo para a ação –
seja atacar ou fugir. Por isso, não é surpreendente que os impulsos
avassaladores associados com esta reação sejam os de agressão e de desejo de
fugir. Quando estes não são capazes de serem realizados (devido à coação
social), os estímulos serão freqüentemente expressos por comportamentos como
bater os pés, marcar passos ou insultar pessoas. Isto é, os sentimentos
produzidos são como os de quem está preso e está precisando fugir.
O
efeito número um da reação de luta-e-fuga é alertar o organismo para a possível
existência do perigo. Portanto, há uma mudança automática e imediata na atenção
para pesquisar o ambiente em busca de ameaças em potencial. Por isso, passa a
ser muito difícil concentrar-se em tarefas diárias quando alguém esta ansioso.
Pessoas ansiosas freqüentemente se queixam de ficarem facilmente distraídas
durante tarefas do dia-a-dia; de não conseguirem se concentrar e terem
problemas de memória. Às vezes uma ameaça óbvia não pode ser encontrada.
Infelizmente, a maioria das pessoas não aceita o fato de não encontrar uma
explicação para alguma coisa. Portanto, em muitos casos, quando as pessoas não
conseguem explicar seus sentimentos, elas tentem a procurar em si próprias. Em
outras palavras, “se nada exterior esta me deixando ansioso, então deve haver
algo de errado comigo mesmo”. Neste caso, o cérebro inventa uma explicação como
“eu devo estar morrendo, perdendo o controle ou ficando louco.” Como já vimos
nada poderia ser menos verdadeiro, já que a função primordial da reação de
luta-e-fuga é a de proteger o organismo, e não de prejudicá-lo. Por isso mesmo,
são pensamentos compreensíveis.
Até
agora, nós observamos as reações e os componentes da ansiedade em geral ou da
reação de luta-e-fuga. Contudo, você pode estar se perguntando como tudo isso
se aplica a ataques de pânico. Afinal, porque a reação de luta-e-fuga é ativada
durante um ataque de pânico, já que não há, aparentemente, nada a temer?
De
acordo com uma grande quantidade de pesquisas, parece que pessoas que
experimentam ataque de pânico têm medo (p. ex., o que causa o pânico) das
próprias sensações de luta-e-fuga. Assim, ataques de pânico podem ser vistos como
uma série de sintomas físicos inesperados e uma reação de pânico ou de medo
desses sintomas. A segunda parte deste modelo é fácil de ser compreendida. Como
já visto antes, a reação de luta-e-fuga (onde o sintoma físico tem um papel
importante) leva o cérebro a procurar perigos. Quando o cérebro não consegue
encontrar nenhum perigo óbvio, ele passa a procurar no interior da pessoa e
inventa um perigo como “estou morrendo, estou perdendo o controle, etc”. Como
as interpretações dos sintomas físicos são assustadoras, é compreensível o
aparecimento do medo e do pânico. Por sua vez, estes dois sentimentos produzem
mais sintomas físicos, e por isso se introduz um ciclo de sintomas, medo, sintomas,
medo e assim por diante. A primeira parte do modelo é mais difícil de ser
compreendida: por que você experimenta os sintomas físicos da reação de
luta-e-fuga se você não está com medo? Existem muitas formas para que estes
sintomas sejam produzidos; não apenas através do medo. Por exemplo, você está
estressado e isto resulta em um aumento da produção de adrenalina e outras
substancias que, de tempo em tempo, produzem estes sintomas. Este aumento na
produção de adrenalina pode ser quimicamente mantido no organismo, mesmo depois
do desaparecimento do fator que gerava este stress. Outra possibilidade é que
você tende a respirar um pouco mais rápido (hiperventilação sutil) devido a um
hábito já aprendido, e isto também pode produzir estes sintomas. Como a
hiper-respiração é menos intensa, você pode se acostumar com esta forma de
respiração, e não reparar que você está hiper-ventilando. Uma terceira
possibilidade é que você esteja experimentando mudanças naturais em seu corpo (
o que todos experimentam, mas nem todos as percebem) e, justamente, por estar
constantemente verificando e monitorando seu corpo, você passa a reparar muito
mais nestas sensações do que as outras pessoas. Além das duas outras razões já
descritas que produzem sintomas físicos (estresse e hiper-respiração), você
também poderá se tornar consciente destes sintomas físico como resultado de um
processo denominado condicionamento interoceptivo. Como os sintomas físicos
ficaram associados com o trauma do pânico, eles se tornaram sinais
significativos de perigos e ameaças a você (isto é, eles se tornaram estímulos
condicionados). Como resultado, é muito provável que você se torne altamente
sensível a estes sintomas e reaja com receio, simplesmente devido a experiências
passadas de pânico com as quais elas foram associadas. Como conseqüência deste
tipo de associação condicionada, é possível que sintomas produzidos por
atividades regulares sejam também levados ao ponto de uma crise de pânico.
Mesmo
que não estejamos certos do fato de por que alguém experimenta os sintomas
iniciais, assegura-se de que eles são
uma parte da reação de luta-e-fuga e por isso inofensivo a qualquer pessoa.
Obviamente,
então, uma vez acreditando convictamente (100%) que estas sensações físicas não
são perigosas, o medo e o pânico desaparecerão e você não mais experimentará ataques
de pânico. É claro que, quando diversos ataques já tenham sido experimentados
por você, e que você tenha interpretado erroneamente estes sintomas muitas
vezes, esta interpretação errada torna-se bastante automática, e assim passa a
ser muito difícil de, conscientemente, convencer-se de que estes sintomas são
inofensivos.
Resumindo,
a ansiedade é cientificamente conhecida como reação de luta-e-fuga, sendo sua
função primordial de ativar o organismo e de protegê-lo do perigo. Associadas a
esta reação estão uma série de mudanças mentais, físicas e comportamentais. É
importante notar que, uma vez que o perigo tenha desaparecido muito dessas
mudanças (especialmente as físicas) continuarão, praticamente com controle
autônomo sobre si próprias, devido ao aprendizado e as outras mudanças
corporais de longo prazo. Quando os sintomas físicos surgem na ausência de uma
explicação óbvia, as pessoas costumam interpretar erradamente os sintomas de
luta-e-fuga como indicativos de sérios problemas mentais ou físicos. Neste
caso, as próprias sensações podem se tornar ameaçadoras e, justamente por isso,
pode desencadear uma nova reação de luta-e-fuga. Muitas pessoas, quando
experimentam os sintomas da reação de luta-e-fuga, acreditam estar ficando
loucas. Elas costumam mais freqüentemente relacionar tais sintomas com uma
doença mental grave, conhecida como esquizofrenia. Observemos um pouco a
esquizofrenia para compararmos o quão freqüente isto ocorre.
Esquizofrenia
é um transtorno grave caracterizado por fortes sintomas, como, por exemplo,
fala e pensamento deslocados, algumas vezes levando a balbucios, delírios ou
crenças estranhas (p.ex., que mensagens estão sendo percebidas desde o espaço)
e alucinações (ouvir vozes falarem dentro da própria cabeça). Também, a
esquizofrenia parece ser em grande parte um transtorno com base genética,
ocorrendo fortemente em famílias.
A
esquizofrenia geralmente se inicia de forma gradual e não de repente (como em um ataque de pânico). Também, justamente
porque ocorre em famílias, apenas certa proporção de pessoas tende a tornar-se
esquizofrênica, e ainda, em outras pessoas, nenhuma quantidade de estresse
causaria como conseqüência o transtorno em questão. Um terceiro ponto também
muito importante é que pessoas esquizofrênicas exibem alguns dos sintomas, leves
do transtorno por grande parte de suas vidas (p.ex., pensamentos estranhos e
fala florida). Desta forma, se essas características não tiverem sido ainda
percebidas em sua personalidade, a maior probabilidade é de você não se tornar
um esquizofrênico. Esta chance diminui ainda se você já tem mais de 25 anos, já
que a esquizofrenia surge geralmente no final da adolescência até os 20 anos.
Finalmente, se você já passou por entrevistas com um psicólogo ou psiquiatra,
você pode estar certo de que eles saberiam imediatamente diagnosticá-lo como
esquizofrênico.
Algumas
pessoas acreditam que vão “perder o controle”quando entrarem em pânico.
Presumivelmente, elas acham que vão paralisar completamente e ficarão incapazes
de se mover, ou que não vão saber o que estão fazendo e por isso vão sair
disparados matando pessoas, ou gritando obscenidades e se envergonhando diante
de outros. Por outro lado, podem não saber o que possa acontecer, mas podem
também experimentar um sentimento dominante de “catástrofe iminente”.
Considerando
nossas discussões anteriores, podemos agora saber de onde surge este
sentimento. Durante uma crise de ansiedade, o corpo está preparado para ação e
neste momento há um enorme desejo de fuga. Contudo, a reação de luta-e-fuga não
está preparada e treinada a prejudicar terceiros (que não sejam uma ameaça) e
não produzirá paralisia. Ao invés disso, toda reação é direcionada a afastar o
organismo. Alem disso, nunca houve nenhum caso registrado de alguém que tenha
se descontrolado a tal ponto. Mesmo que a reação de luta-e-fuga o faça
sentir-se um pouco confuso, irreal e distraído, você ainda é capaz de pensar e
funcionar normalmente. Simplesmente pense sobre quão freqüente as outras
pessoas nem notam que você está tendo um ataque de pânico.
Muita
pessoa tem receio do que lhes pode acontecer como conseqüência a seus sintomas,
talvez devido a alguma crença de que seus nervos podem se esgotarem e elas
possam talvez entrar em
colapso. Como já discutido anteriormente, a reação de
luta-e-fuga é produzida dominantemente por atividade do sistema nervoso
simpático, que é combatida pelo sistema nervoso parassimpático. O sistema
parassimpático é de certa forma, uma salva-guarda contra a possibilidade de o
sistema simpático “danificar-se”. Os
nervos são como fios elétricos e a ansiedade não são capazes de danificá-los,
prejudicá-los ou desgastá-los. E a pior
coisa que poderia acontecer durante um ataque de pânico seria que a pessoa
poderia desmaiar, sendo que, se isso acontecesse, o sistema nervoso simpático
interromperia sua atividade e a pessoa recuperaria seus sentidos em poucos
segundos. Contudo, desmaiar em conseqüência da reação de luta-e-fuga é
extremamente raro, mas, se isso acontecer, é um modo adaptativo de impedir que
o sistema nervoso simpático fique fora de controle.
Muitas
pessoas interpretam erradamente os sintomas da reação de luta-e-fuga e
acreditam que elas estejam morrendo de um ataque cardíaco. Isto é porque talvez
muitas pessoas não tenham um conhecimento suficiente sobre ataques cardíacos.
Vamos rever os fatos sobre a doença coronária e ver como isso difere de ataques
de pânico.
Os
sintomas principais de ataques cardíacos são falta de ar e dores no peito, como
também, ocasionalmente, palpitações e desmaio. Os sintomas de ataques cardíacos
estão geralmente relacionados diretamente com esforço. Isto é, com quanto mais
esforço você se exercitar, piores serão os sintomas; e quanto menos você se
esforçar, melhores. Os sintomas desaparecerão de forma relativamente rápida com
descanso. Isto é muito diferente dos sintomas associados com ataques de pânico,
que freqüentemente ocorrem durante um estado de repouso e parecem ter vida
própria. Certamente, ataque de pânico podem ocorrer durante exercícios ou podem
inclusive piorar com exercícios, mas são diferentes de ataques cardíacos, pois
podem se produzir também freqüentemente durante repouso. Mais importante ainda
é notar que um ataque cardíaco irá quase sempre produzir mudanças elétricas no
coração que podem ser detectadas em eletrocardiogramas (ECG). Em ataques de
pânico, a única mudança que é detectada por um ECG é um pequeno aumento no
ritmo cardíaco. Por isso, se você já passou por um eletrocardiograma e o doutor
disse que tudo está bem, esteja certo que você não sofre de nenhum problema no
coração. Também, se seus sintomas ocorrem a qualquer momento e não apenas após
um esforço físico, isto é uma evidencia adicional contra a possibilidade de um
ataque cardíaco.
[1]
Texto extraído de: Barlow, D.
H. (1999). Manual clínico dos transtornos psicológicos. (2. ed.). Porto
Alegre: Artmed
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