Um humor
deprimido, perda de interesse ou prazer são os sintomas básicos de depressão. o
transtorno depressivo afeta 3% a 11% da população ao ano, exercendo
considerável impacto econômico. Infelizmente permanece sem diagnóstico e sem
tratamento em 30% a 50% dos casos.
A depressão
está inclusa no Bloco do CID-10 de Transtornos de Humor. Nestes
transtornos a perturbação fundamental é uma alteração do humor,
usualmente para depressão (com ou sem ansiedade associada) ou elação.
Essa alteração do humor é normalmente acompanhada por uma alteração no nível
global de atividade e a maioria dos outros sintomas é secundária ou facilmente
compreendida no contexto de tais alterações. A maioria desses transtornos tende
a ser recorrente e o início dos episódios individuais é frequentemente
relacionado com eventos ou situações estressantes. Os sintomas mais comumente
percebidos partem tanto de alterações fisiológicas quanto de mudanças de
estados emocionais e cognitivos.
Os
pacientes com humor elevado mostram expansividade, fuga de idéias, sono
diminuído, auto-estima elevada, e idéias grandiosas. Os pacientes com humor
deprimido têm perda de energia e interesse, sentimentos de culpa, dificuldades
para concentrar-se, perda de apetite, pensamentos sobre morte e suicídio.
Outros sinais e sintomas incluem alterações nos níveis de atividade,
capacidades cognitivas, linguagem e funções vegetativas (sono, apetite,
atividade sexual e outros ritmos biológicos).
O termo transtorno,
de acordo com a CID-10 é usado para indicar a existência de um conjunto de
sintomas ou comportamentos clinicamente reconhecível associado a sofrimento e
interferência com funções pessoais. Desvio ou conflito social sozinho, sem
disfunção pessoal, não deve ser incluído em transtorno mental.
O Transtorno
Depressivo Maior é um transtorno comum, com uma prevalência durante a vida
de cerca de 15, talvez, até 25% em mulheres. O Transtorno Bipolar é
menos comum que o Transtorno Depressivo Maior, com uma prevalência no
período de vida de cerca de 1%, similar à esquizofrenia. Mas o curso do
transtorno bipolar não é tão favorável quanto o de depressão; o custo do
transtorno bipolar para os pacientes, suas famílias e a sociedade é
significativo. Enquanto a maioria das pessoas com transtorno bipolar acaba
recebendo atendimento médico e tratamento, cerca de metade apenas das pessoas
com transtorno depressivo chega a receber tratamento específico.
Independentemente
do país ou cultura, a prevalência de transtorno depressivo unipolar é duas
vezes maior no sexo feminino. As razões para tal fenômeno ainda são
desconhecidos e podem, segundo Kaplan, Sadock, Grebb (1997), está relacionado a
diversos estresses, parto, modelos comportamentais de aprendizado e efeitos
hormonais.
No
transtorno bipolar a prevalência é igual para homens e mulheres.
A idade
de início para o transtorno bipolar varia da infância (5 ou 6 anos) aos 50 anos
ou mesmo depois (em casos raros), com idade média de 30 anos.
A idade
média de início para o transtorno depressivo é de 40 anos (50% dos pacientes
têm um início entre 20 e 50 anos).
História
da Depressão
A
depressão tem sido registrada desde a Antiguidade. A história do Rey Saul, no
Antigo Testamento, descreve uma síndrome depressiva, assim como a história do
suicídio de Ajax, na Ilíada, de Homero. Cerca de 400 a.C. Hipócrates usou os
termos "mania" e "melancolia" para
perturbações mentais. Por volta do ano 30, Aulus Comelius Celsus descreveu a
melancolia em seu trabalho De re medicine como uma depressão causada pela bile
negra. O termo continuou a ser utilizado por outros autores médicos, incluindo
Arateus, Galeno e Alexandre de Talles, no século VI. O médico judeu, Moses
Maimonides, no século XII, considerou a melancolia como uma entidade patológica
distinta. Em 1685, Bonet descreveu uma doença mental à qual chamou de
maníaco-melancholicus. (Kaplan, Sadock, Grebb, 1997)
Em 1864,
Jules Falret descreveu uma condição chamada de folie circulaire, na qual os
pacientes experimentam humores alternados de depressão e mania.
Emil
Kraepelin, em 1899 descreveu uma psicose maníaco-depressiva que continha a
maioria dos critérios usados atualmente pelos psiquiatras, para o
estabelecimento do diagnóstico de Transtorno bipolar.
EPISÓDIO
DEPRESSIVO
- Concentração e atenção reduzidas;
- auto-estima e autoconfiança reduzidas;
- idéias de culpa e inutilidade;
- visões desoladas e pessimistas do futuro
- idéias ou atos autolesivos ou suicídio;
- sono perturbado;
- apetite diminuído.
Em alguns
casos, ansiedade, angústia e agitação motora são mais proeminentes do que a
depressão. A mudança do humor pode ser mascarada por irritabilidade, consumo
excessivo de álcool, comportamento histriônico, exacerbação de sintomas fóbicos
ou obsessivos preexistentes ou por preocupações hipocondríacas. Para o
diagnóstico é requerida uma duração de pelo menos duas semanas, mas períodos
mais curtos podem ser razoáveis se os sintomas são inicialmente graves e de
início rápido (Cid-10, 1993).
De acordo
com o CID-10 a presença de demência ou retardo mental não exclui o diagnóstico
de um episódio depressivo tratável.
A CID-10
considera as seguintes subcategorias para episódio depressivo: episódio
depressivo leve; episódio depressivo moderado; episódio depressivo grave sem
sintomas psicóticos; episódio depressivo grave com sintomas psicótico.
Episódio
depressivo leve
Presença de humor deprimido,
perda de interesse e prazer e fatigabilidade aumentada mais pelo menos dois dos
outros sintomas. Nenhum dos sintomas deve estar presente em grau intenso. A
duração mínima é de duas semanas. No episódio leve o indivíduo está usualmente
angustiado pelos sintomas e tem alguma dificuldade em continuar com o trabalho do
dia-a-dia e atividades sociais, mas provavelmente não irá parar suas funções
completamente.
Episódio
depressivo moderado
Devem estar presente dois ou três
sintomas mais típicos; e pelo menos três (preferencialmente quatro) dos outros
sintomas. Duração mínima de duas semanas. O indivíduo terá dificuldade
considerável de continuar as atividades sociais, laborais ou domésticas.
Episódio
depressivo sem sintomas psicóticos
Angústia ou agitação considerável.
Perda de auto-estima ou sentimento de inutilidade ou culpa, provavelmente são
proeminentes e o suicídio é um perigo marcante. Todos os três sintomas típicos
devem estar presentes e mais pelo menos quatro outros sintomas (alguns de
intensidade grave). É improvável que o paciente seja capaz de continuar suas
atividades sociais, laborais ou domésticas, exceto em uma extensão muito
limitada.
Episódio
depressivo grave com sintomas psicóticos
Além dos
critérios para episódio depressivo grave sem sintomas psicóticos há a presença
de delírios, alucinações ou estupor depressivo. Os delírios envolvem idéias de
pecado, pobreza ou desastres iminentes, pelos quais o paciente pode assumir a
responsabilidade. Alucinações auditivas ou olfativas são usualmente de vozes
difamatórias ou acusativas, ou de sujeira apodrecida ou carne em decomposição.
Retardo psicomotor grave pode evoluir para estupor. Delírios e alucinações
podem ser especificados como humor-congruente ou humor-incongruente.
Estupor
depressivo deve ser diferenciado da esquizofrenia catatônica, do estupor
dissociativo e das formas orgânicas de estupor.
TRANSTORNO
DEPRESSIVO RECORRENTE
Segundo a
CID-10 são episódios repetidos de depressão, sem história de episódios
independentes de elevação do humor e hiperatividade que preencham os critérios
para mania. Contudo a categoria deve ainda ser mantida se há evidência de
breves elevações do humor e hiperatividade leve, os quais preencham os
critérios para hipomania, imediatamente após um episódio depressivo (às vezes
aparentemente precipitado pelo tratamento de uma depressão).
A CID-10 reconhece ainda as
seguintes subcategorias para transtorno depressivo recorrente: transtorno
depressivo recorrente, episódio atual leve; transtorno depressivo recorrente,
episódio atual moderado; transtorno depressivo recorrente, episódio atual grave
sem sintomas psicóticos; transtorno depressivo recorrente, episódio atual grave
com sintomas psicóticos; transtorno depressivo recorrente, atualmente em
remissão; outros transtornos depressivos recorrentes; transtorno depressivo
recorrente, não especificado.
Características
Clínicas da Depressão
Um humor
deprimido, perda de interesse ou prazer são os sintomas básicos de depressão.
Os pacientes descrevem como sendo de dor emocional lancinante. Alguns se
queixam de serem incapazes de chorar. Cerca de 2/3 dos pacientes relata que
pensa em se matar e 10 a 15% comete o suicídio. Entretanto os pacientes
deprimidos, às vezes, parecem não estar conscientes da depressão e não se
queixam de uma perturbação de humor, embora exibam retraimento da família,
amigos e atividades que anteriormente lhe interessavam (Kaplan e Sadock, 1997).
Quase
todos os pacientes queixam-se de uma diminuição da energia que resulta em
dificuldade para terminar tarefas, comprometimento na escola e no trabalho e
motivação diminuída para assumir novas tarefas.
Cerca de
80% dos pacientes queixam-se de problemas para dormirem, especialmente
despertares nas primeiras horas da manhã e múltiplos despertares durante a
noite, durante os quais rumina m sobre seus problemas. Muitos indivíduos têm
perda de apetite e perda de peso. Alguns, porém, têm aumento do apetite, ganho
de peso e maior sono. A ansiedade é um sintoma comum, afetando 90% dos
indivíduos com depressão (Kaplan, Sadock, 1997).
As
variadas mudanças no consumo alimentar e repouso podem agravar doenças médicas
coexistentes, como diabetes, hipertensão, doença pulmonar obstrutiva crônica e
cardiopatia. Outros sintomas incluem anormalidades menstruais e diminuição do
interesse e desempenho sexual.
Os
sintomas cognitivos incluem relatos subjetivos de incapacidade para
concentrarem-se e comprometimento do pensamento.
Em
crianças, fobia à escola e apego excessivo aos pais podem ser sintomas
depressivos. Um baixo rendimento na escola, abuso de substâncias comportamento
anti-social, promiscuidade sexual, faltas injustificadas à escola e fugas de
casa podem ser sintomas de depressão em adolescentes (Kaplan, Sadock, 1997).
A
depressão é mais comum em idosos do que na população geral. Pode estar
correlacionada com baixa situação socioeconômica, perda do cônjuge, doença
física concomitante e isolamento social.
Kaplan e Sadock
(1997) relatam que o retardo psicomotor generalizado é o sintoma mais comum,
embora agitação psicomotora possa estar presente. A apresentação clássica de um
paciente deprimido envolve uma postura curvada sem movimentos espontâneos e um
olhar abatido e perdido. Quando exibem amplos sintomas de retardo psicomotor se
assemelham à esquizofrenia catatônica. Muitas pessoas deprimidas apresentam uma
redução da velocidade e intensidade da fala, respondendo com monossílabos,
quando perguntados, e demorando em responder. Com freqüência ocorre
concentração comprometida e esquecimento.
Têm risco
aumentado de suicídio à medida que começam a melhorar e recuperar a energia
necessária para executarem e planejarem um suicídio (suicídio paradoxal).
Kaplan e Sadock (1997) dizem que um erro clínico comum consiste em prescrever a
um paciente deprimido uma grande quantidade de antidepressivos (especialmente
antidepressivos tricíclicos).
Diagnóstico
diferencial da depressão
Muitos
transtornos médicos e neurológicos e agentes farmacológicos podem produzir
sintomas de depressão. Muitos pacientes com transtorno depressivo procuram um
clínico geral com queixas somáticas.
A
investigação deve incluir testes das funções da tireóide e da adrenal. Qualquer
droga que o paciente esteja usando deve ser considerada como um fator potencial
de transtorno do humor. Drogas cardíacas e agentes anti-hipertensivos,
antiepilépticos, drogas antiparkinsonianas, analgésicos, antibacterianos e
antineoplásicos, estão geralmente associados com sintomas depressivos. Os
problemas neurológicos mais comuns que se manifestam com sintomas depressivos
são: a doença de Parkinson, doenças causadoras de demência, epilepsia, doenças
cérebro-vascular e tumores.
Referências:
depressao#ixzz2JMXRWES9
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